Postado por saudecoletiva em 19/fev/2021 -
Aline Bonifácio
Pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva (ISC), da Universidade Federal Fluminense (UFF), estão estudando os efeitos da pandemia de Covid-19 na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e na assistência à saúde da população da cidade de Niterói (RJ). O diretor do ISC/UFF, Aluísio Gomes da Silva Júnior, é o coordenador da pesquisa, da qual também participam as professoras e pesquisadoras do instituto Gisele Caldas Alexandre, Regina Flauzino e Michele Soltosky Peres.
Dados gerados entre 2015 e 2020, que digam respeito a nascimentos, mortalidade, saúde da criança, da mulher e pré-natal, entre outros, foram coletados de diferentes sistemas de informação do SUS. Dentre as fontes de coleta estão os prontuários eletrônicos e livros de registros, o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), o Sistema da Central Integrada de Leitos (CIL), além de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, os pesquisadores entrevistaram 20 mulheres atendidas na Maternidade Municipal Alzira Reis no período de março a junho de 2020. As gestantes foram selecionadas de bairros com maior frequência de usuárias no hospital, como, por exemplo, Fonseca, Largo da Batalha, Charitas, Barreto, Sapê, entre outros. O objetivo é compreender como a vida dessas mulheres foi afetada pela pandemia durante a gravidez, o parto e o puerpério (popularmente conhecido como resguardo).
Outra frente de pesquisa foi a realização de entrevistas com profissionais de saúde, de diferentes categorias, que trabalham na mesma maternidade. Dados como tempo de experiência e formação profissional foram coletados, assim como relatos a respeito dos riscos enfrentados devido à pandemia, sobre as medidas de segurança adotadas no trabalho e impactos provocados pela Covid-19 no contexto familiar, inclusive econômicos.
Ao final da análise de todo o material coletado, um documento técnico será elaborado, com a apresentação das lições aprendidas e das experiências bem-sucedidas em reduzir os efeitos indiretos da pandemia na rede niteroiense do SUS. Também deverá ser incluída uma revisão bibliográfica e uma análise sobre normas e atos administrativos produzidos pela Fundação Municipal de Saúde em decorrência do combate à pandemia.
Os pesquisadores esperam que o resultado da pesquisa contribua para a elaboração de políticas públicas de prevenção e direcionadas à redução dos efeitos negativos da pandemia. Aluísio Gomes explica que as informações fornecidas pelas usuárias do SUS e pelos profissionais entrevistados, a respeito das dificuldades e facilidades enfrentadas, ajudarão no debate sobre quais mudanças precisam ser feitas no SUS, considerando aquilo que foi aprendido com o combate à pandemia.
Parceria com a Opas/OMS
O projeto é parte integrante de um estudo internacional conduzido pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), e que busca identificar os efeitos indiretos da Covid-19 nos serviços de saúde direcionados a gestantes, recém-nascidos, crianças, jovens e idosos no Brasil. Pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) também estão conduzindo estudos para obtenção de dados relevantes das cidades de Pelotas (RS) e São Luís (MA), respectivamente.
Esse projeto da OMS apoia pesquisas semelhantes à do Brasil em outros 19 países, com o propósito de avaliar como a pandemia afetou o funcionamento dos serviços essenciais de saúde nestes locais. A base para análise são indicadores identificados em um guia elaborado pela organização para o enfrentamento da pandemia.
De acordo com Aluísio Gomes, a OMS reconheceu que a prefeitura de Niterói estava adotando ações inovadoras e eficazes para combater a Covid-19 e, por isso, decidiu incluir o município na pesquisa como exemplo de experiência bem-sucedida. A escolha do ISC/UFF para a coordenação da pesquisa local se deu devido ao histórico de estudos realizados em parceria com a prefeitura niteroiense.
Desde que decretou que a Covid-19 se tornou uma pandemia, em 11 de março de 2020, a OMS tem atuado, em nível mundial, para auxiliar governos, instituições de pesquisa e serviços de saúde a combatê-la, com o objetivo de interromper a propagação do Sars-Cov-2, vírus causador da doença. No Brasil, isso implica em buscar a redução de desigualdades sanitárias, sociais e econômicas, sendo considerados grupos mais vulneráveis aqueles que são o foco dessa pesquisa internacional.