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Diretor do ISC-UFF se posiciona contra a guerra na Ucrânia: “uma nova ordem mundial será dos povos do mundo”.

Postado por saudecoletiva em 05/mar/2022 -

Publicado na revista @SemanaOn em 04.03.2022

https://www.semanaon.com.br/coluna/21/21982/nao-a-guerra

Não à Guerra: A Nova Ordem Mundial Será dos Povos do Mundo

Túlio Batista Franco

Fora de Ordem

(Caetano Veloso)

Meu canto esconde-se
Como um bando de Ianomâmis
Na floresta
Na minha testa caem
Vem colocar-se plumas
De um velho cocar…

Estou de pé em cima
Do monte de imundo
Lixo baiano
Cuspo chicletes do ódio
No esgoto exposto do Leblon
Mas retribuo a piscadela
Do garoto de frete
Do Trianon
Eu sei o que é bom…

Eu não espero pelo dia
Em que todos
Os homens concordem
Apenas sei de diversas
Harmonias bonitas
Possíveis sem juízo final…

Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial

No dia 24 de fevereiro, uma 5ª feira do verão brasileiro de 2022, acordamos perplexos com as notícias da invasão da Ucrânia, pela vizinha Rússia. Toda guerra é particularmente assustadora, e atualiza em nossos corpos os piores afetos relacionados à violência, sofrimento, perdas e dor. Esta é uma guerra entre impérios, e não tem nada a ver com o bem-estar das respectivas populações dos países envolvidos.

Quando assistimos chefes de estado desfilando no noticiário internacional, com argumentos rotos sobre a guerra, e olhamos suas histórias na relação com os diferentes povos ao longo do tempo, percebemos muito facilmente que o mundo está mergulhado em uma enorme onda de hipocrisia e cinismo. Inúmeras guerras foram patrocinadas pelos atuais protagonistas da Guerra na Ucrânia, sempre em busca de poder, controle de recursos, acumulação de riquezas. Nas suas ações submetem as populações destes países às piores humilhações, impondo-lhes a destruição de suas moradias, e de suas vidas.

A imprensa mundial e seus analistas arvoram a ideia de que haveria uma nova “ordem mundial”, multipolar, que justificaria as atuais ações políticas e militares protagonizadas por vários países simultaneamente, especialmente Rússia e China, além dos EUA, reafirmando seu “domínio sobre o mundo”. Esta certamente é uma visão parcial, simplista e obtusa da realidade global. Um giro pelo mundo com o olhar sensível para a existência dos múltiplos povos espalhados no território global, é possível verificar muita vida criativa e em harmonia.

Queremos nesse pequeno texto contestar as opiniões que afirmam haver uma “nova ordem mundial”. O que vemos é a sempre velha ordem, onde uma minoria de ricos manda nos países, nas políticas, e mantém sob forte opressão a grande maioria da população. Corpos subjugados, matáveis, segundo as biopolíticas hegemônicas, cuja característica necropolítica ganha contornos marcantes no tempo atual, de hegemonia neoliberal.

A sandice internacional chega a tal ponto, que por intervenção humana nestes últimos duzentos anos os ecossistemas da terra vêm sendo alterados com aumento da temperatura global, período que foi nomeado de Antropoceno. O desequilíbrio ambiental decorrente das agressões à natureza, mata 15 vezes mais pessoas do que todas as guerras e outras formas de violência, segundo estudo publicado em 19/10/2017 pela revista científica The Lancet. As ações dos governos para parar esta marcha rumo à destruição des humanes e todas as formas de vida, são invariavelmente capturadas por interesses inconciliáveis do capitalismo, e sua versão neoliberal. São sempre ineficazes.

Uma nova ordem mundial se caracterizaria por estabelecer a defesa radical da natureza, o uso equilibrado dos seus recursos, a paralização da atividade extrativista onde há ameaça aos ecossistemas, restabelecer as condições climáticas ideais do planeta, e mais uma série de iniciativas que resgatem a vida plena em todas as suas formas. Lideranças indígenas como Ailton Krenak e Davi Kopenawa Yanomâmi têm sido entre outras, vozes que resgatam a ideia de defesa de todas as formas de vida, incorporando a ideia de que es humanes são também natureza, e que seu não reconhecimento é um dos fatores que levou à destruição atual. O pensamento hegemônico diz: _ já que a floresta não é humana, posso destrui-la. Esquece-se que a vida de ambos, humanes, árvores, insetos etc… é inseparável.

Uma nova ordem só será construída com uma revolução no pensamento, produção de uma nova subjetividade coletiva não mercantil, que rejeite os sistemas atuais de poder, transformados em máquinas de produzir riqueza para uns poucos, sofrimento e morte para muitos. A nova ordem se conecta com o movimento “Amazônia Centro do Mundo”, proposto por Eliane Brun que conecta e põe ao centro os povos originários, com as comunidades tradicionais, os povos das periferias pobres dos grandes centros, com as comunidades LGBTQIA+, antirracistas, o Sul Global, com os refugiados, migrantes e a imensa maioria oprimida da terra. A Nova Ordem Mundial é um novo tempo, que se anuncia desde hoje nas nossas ações solidárias e generosas, uns com outres.

NÃO À GUERRA!

PELA PAZ, SEMPRE!

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